domingo, 29 de abril de 2007

Para reflectir

É em inglês e é pena. Mesmo assim, vale a pena ver este vídeo:

quarta-feira, 18 de abril de 2007

terça-feira, 17 de abril de 2007

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Sobre a metáfora



Neruda meteu a mão no bolso e tirou uma nota vermelha "mais que regular". O carteiro disse "obrigado", não tão aflito pela quantia como pela iminente despedida. Essa mesma tristeza pareceu imobilizá-lo a um grau alarmante. O poeta, que se dispunha a entrar, não pôde deixar de se interessar por uma inércia tão pronunciada.
- O que tens?
- Dom Pablo?
- Ficas aí parado como um poste.
Mário torceu o pescoço e procurou os olhos do poeta de baixo a cima.
- Cravado como uma lança?
- Não, quieto como uma torre de xadrez.
- Mais tranquilo que gato de porcelana?
Neruda largou a maçaneta do portão, e acariciou o queixo.
- Mário Jiménez, além das Odes elementares tenho lido livros muito melhores. É indigno que me submetas a todo o tipo de comparações e metáforas.
- Don Pablo?
- Metáforas, homem!
- Que coisas são essas?
O poeta pôs uma mão no ombro do rapaz.
- Para te esclarecer mais ou menos imprecisamente, são maneiras de dizer uma coisa comparando-a com outras.
- Dê-me um exemplo.
Neruda olhou para o relógio e suspirou.
- Bem, quando tu dizes que o céu está a chorar, o que é que queres dizer?
- Que fácil! Que está a chover, pois.
- Bem, isso é uma metáfora.
- E porque é que sendo uma coisa tão fácil, se chama uma coisa tão complicada?
- Porque os nomes não têm nada a ver com a simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena que voa não devia ter um nome tão comprido como mariposa. Pensa que elefante tem o mesmo número de letras que mariposa e é muito maior e não voa — concluiu Neruda exausto. Com um resto de ânimo, apontou a Mário o caminho para a calheta. Mas o carteiro ainda teve a presença de espírito para dizer:
- Poça, como eu gostava de ser poeta!
- Homem! No Chile todos são poetas. É mais original que continues a ser carteiro. Pelo menos andas muito e não engordas. No Chile todos os poetas são barrigudos.

António Skármeta, O Carteiro de Pablo Neruda (Ardente Paciência), Lisboa, Editorial Teorema, 1986, pp. 29-30.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Sobre a língua portuguesa

Ao criar este blog com a finalidade de ser um espaço para se "falar" em português, ocorreu-me Fernando Pessoa, aquele que, pela voz de Bernardo Soares, afirmou ser a língua portuguesa a sua Pátria. As suas palavras tornaram-se premonitórias: como pode alguém afirmar-se bom português, quando maltrata constantemente a sua língua materna?
A língua é parte integrante do capital identitário dos cidadãos conjuntamente com as referências históricas, as personalidades, os mitos. Sem memórias não há futuro e se o quisermos construir, só o poderemos fazer através da língua. Não maltratemos, pois, as palavras; tratemo-las com carinho e cuidemos delas como seres frágeis e desprotegidos que são. Deixem-me, mais uma vez, citar o grande Pessoa:
«Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. [...] odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, [...] a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata [...]. Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida».